segunda-feira, outubro 24, 2005

Eu, assim como você



Eu; vinte e um anos,

homem direito,

não formado,

sem dinheiro,

mas de boa família,

venho estufar o peito

e bater com força nos pulmões

a mão em concha

pra vos dizer que tenho medo.

E se o passo acelero,

procurando atravessar

os quilômetros que me separam

do futuro,

é porque busco

a esperança que não encontro

hoje;

eu, cidadão brasileiro,

desarmado, descrente, desesperançoso,

e tantos outros "des",

assim como tu,

luto pela paz e igualdade,

movido unicamente por um coração

e uma alma,

que há de se questionar se existe,

munida de coragem e energia

que me sobrou da última refeição;

eu, assim como tu,

ando estressado, cheio de contas pra pagar,

com um terno escuro

num calor intenso de quarenta graus,

porque sou homem sério

e sei que a impressão primeira

é a que fica, e como vós,

preciso me curvar ao poderio

americano,

mesmo no verão,

mesmo encharcando o terno

com gotas de suor e sacrifício,

porque meu filho,

assim como os vossos,

não se contenta com uma pipa,

ou um carrinho ou um pião,

e minha casa precisa de móveis,

luz e pão;

eu, universitário,

pacífico, morador da Zona Norte,

assim como vós,

não entendo a vida,

mas sigo por instinto

a pressão de ser alguém,

seja qual for o sentido;

porque eu,

homem de vinte e um anos

e um sonho de justiça,

estou aqui, como vós,

por um mero acaso

e agradeço pela chance

de estar vivo.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Deus lhe pague.
Esse foi o melhor MESMO.

10:52 AM  
Blogger Lua said...

Lindo
perfeito
dissestes tudo
o que poderias ter falado

belas palavras, como sempre, carioca matemático escritor..

beijos.

6:48 PM  
Anonymous Anônimo said...

Ai Marcelinho...maravilhoso como sempre...Suas palavras são sempre perfeitas e tudo o que eu preciso pra me acalmar...
Te amo muito menino especial demais!

6:17 AM  

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