Eu, assim como você

Eu; vinte e um anos,
homem direito,
não formado,
sem dinheiro,
mas de boa família,
venho estufar o peito
e bater com força nos pulmões
a mão em concha
pra vos dizer que tenho medo.
E se o passo acelero,
procurando atravessar
os quilômetros que me separam
do futuro,
é porque busco
a esperança que não encontro
hoje;
eu, cidadão brasileiro,
desarmado, descrente, desesperançoso,
e tantos outros "des",
assim como tu,
luto pela paz e igualdade,
movido unicamente por um coração
e uma alma,
que há de se questionar se existe,
munida de coragem e energia
que me sobrou da última refeição;
eu, assim como tu,
ando estressado, cheio de contas pra pagar,
com um terno escuro
num calor intenso de quarenta graus,
porque sou homem sério
e sei que a impressão primeira
é a que fica, e como vós,
preciso me curvar ao poderio
americano,
mesmo no verão,
mesmo encharcando o terno
com gotas de suor e sacrifício,
porque meu filho,
assim como os vossos,
não se contenta com uma pipa,
ou um carrinho ou um pião,
e minha casa precisa de móveis,
luz e pão;
eu, universitário,
pacífico, morador da Zona Norte,
assim como vós,
não entendo a vida,
mas sigo por instinto
a pressão de ser alguém,
seja qual for o sentido;
porque eu,
homem de vinte e um anos
e um sonho de justiça,
estou aqui, como vós,
por um mero acaso
e agradeço pela chance
de estar vivo.
3 Comments:
Deus lhe pague.
Esse foi o melhor MESMO.
Lindo
perfeito
dissestes tudo
o que poderias ter falado
belas palavras, como sempre, carioca matemático escritor..
beijos.
Ai Marcelinho...maravilhoso como sempre...Suas palavras são sempre perfeitas e tudo o que eu preciso pra me acalmar...
Te amo muito menino especial demais!
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